segunda-feira, 20 de junho de 2011

Criação e Imaginação

Para Vygotsky a criação seria o “parto de uma longa gestação”. Portanto não é encarada como algo que surge do nada no indivíduo, pelo contrário, é fruto de um longo processo, diretamente relacionado à interação do sujeito com o meio sociocultural.
O pensamento criador surge primeiramente pela necessidade do homem em adaptar-se ao meio ambiente. Para Vygotsky, um ser totalmente adaptado ao meio em que vive não teria necessidade de criar nada. Aliado a isso uma característica do cérebro humano amplia esse processo criador, que é a sua maleabilidade. Nosso cérebro é capaz de se “moldar” a partir das experiencias do indivíduo.
Assim, o principio da imaginação criadora para Vygotsky é a dissociação e associação, que é o processo de isolar e classificar características de diferentes objetos, e depois combinar e alterar essas características de forma a criar outros objetos. Dessa forma, um monstro imaginado por uma criança pode ser um bom exemplo. Ele é uma combinação de várias “partes” de objetos que a criança já conheceu, por exemplo dentes enormes, garras, pêlos. Um vampiro por exemplo, é a combinação de homem com morcego. Essa criação não surgiria de ninguém que não tivesse nenhum contato com o conceito de morcego. Outro exemplo, é a tendencia das crianças exagerarem nas histórias, em tamanho e quantidade.
Ou seja, a criação ocorre pela experiencia. Apenas os conceitos já vivenciados passam por esse processo de dissociação e associação. Por fim vem o processo de cristalização, que é o caminho da imaginação para a realidade.
Vygotsky também chama a atenção para as diferenças entre a imaginação no adulto e na criança. Na criança, a imaginação acontece de forma independente da razão. No período da adolescência, razão e imaginação aparecem em proporções parecidas, e entrando na idade adulta a tendencia é de a razão aparecer em maior proporção. Dessa forma, a imaginação da criança mais “livre” que a do adulto, pois não tem a preocupação de criar objetos reais, ou possíveis. Com o avanço da idade, a razão passa a interferir mais na imaginação, que passa a criar em relação ao “real”.
Portanto, embora a imaginação na criança possa ser mais livre, para Vygotsky, ela é mais pobre que a do adulto, pois a criança não se preocupa em criar nada real, concreto que possa ser utilizado no mundo real, e seu repertório de experiencias é menor. Já o adulto, apesar de não ter a imaginação tão solta, ela é mais rica, pois é aplicada ao mundo real, e possui um repertório de experiencias muito maior que na criança. Pela história pode-se perceber isso: os grandes criadores fazem seus trabalhos de relevância depois da infância. Mesmo Mozart, exemplo de gênio precoce, produziu suas grandes obras depois da adolescência.
Por essa ótica acredito que a imaginação deva receber atenção na escola, não apenas nas aulas de arte, mas em todas as diciplinas, pois é parte fundamental do pensamento humano e está presente na vida do individuo em todas as situações que apresentem um desafio que necessite ser superado, ou seja, situações que o ser tem de se adaptar ao meio. Além disso, a imaginação e criatividade tem de ser tratadas como aspéctos em desenvolvimento, que necessitam do contato mediado com o meio socio-cultural para se desenvolverem, e não como caracteristicas inatas e imutaveis.


Referências Bibliograficas:
La imaginación y el arte em la infância – L.S. Vigotsky. Madrid: Espanha. Ed. Akal, 2009

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